Lia Menna Barreto / 2008

Esculturas Dependentes - Sistemas emergentes

Mauro Fuke produziu em 2006 trabalhos que lembram marionetes.
Um cubo de madeira todo dobrado, encolhido mesmo, precisa de ajuda
para ser levantado e exibido no ar. Pois no chão, na mesa ou sobre
qualquer outro tipo de base, não dá para perceber que se trata de um
cubo. Pois o cubo tende a ficar desmaiado, como se quisesse dormir ou
estivesse com preguiça.
E esse cubo é perfeito, calculado e elaborado nos mínimos detalhes.
Sua imagem, dentro do computador, exibe vários pontos de vista, cores
e movimentos.
Ao sair da máquina e se materializar, se comporta como um ser vivo
recém nascido.
O artista oferece-nos uma escultura feita em madeira, desinteressada
em lutar contra a lei da gravidade.
O interêsse do Mauro por esculturas dependentes é antiga. Vem de 1983.
Lembro de um trabalho com bolinhas de madeira soltas, que passeavam
pela escultura, de janelas que abriam e fechavam e de outros com
manivelas e roldanas.
Desde aquela época, o espectador era convidado a interagir com a escultura.
.

Sobre os projetos

Mauro Fuke sempre trabalhou com projetos. Seus primeiros desenhos eram
feitos sobre papel quadriculado e à lápis. Eram usados como uma
ferramenta, ficavam perambulando pelo atelier entre lixas e formões.
Possuem (a maioria) manchas de café, resquícios de cola e pó de
madeira.
Há 15 anos usa o computador para projetar.
Nessa série de esculturas dependentes, os projetos foram feitos à base
de números e o resultado é sempre imprevisível.
A Teoria da Complexidade influencia a imprevisibilidade dessas
esculturas. Na execução dos trabalhos não há espaço para o caos.
O que interessa para o Mauro é um resultado imprevisível, à partir de
um projeto muito detalhado.
O Mauro se impressiona com os mistérios da matemática, atualmente anda
muito intrigado com um livro sobre números primos.
Os números primos vem sendo pesquisados há séculos pelos matemáticos,
pois são números completamente malucos. Pareciam possuir uma ordem
aleátória, porém, as pesquisas mostram que eles possuem uma
organização inesperada.
Os primos são apenas um exemplo, existem situações assim, na biologia,
química, sociologia, etc.
Nos atuais projetos do Mauro ele faz um caminho inverso, parte de uma
matemática bem cartesiana, para obter uma configuração inesperada.

Lia Menna Barreto, março de 2008
Eldorado do Sul